Alimentação na prevenção de cálculos renais

Vários fatores de risco contribuem para a formação de cálculos renais, que incluem a história familiar, sendo 2,5 vezes maior em indivíduos com antecedentes de casos na família; a idade; a raça; elevação de ácido úrico; índice de massa corporal (IMC) >30Kg/m2, a presença de diabetes mellitus; síndrome metabólica e hábitos alimentares inadequados.

Os fatores dietéticos podem ser modificados, especificamente a alimentação, pois a composição da urina está diretamente relacionada com a mesma. A compreensão dos mecanismos fisiológicos e dos fatores de risco é importante para que medidas de prevenção sejam incorporadas pelo paciente no decorrer do tratamento, a fim de modificar a história natural da doença.

A terapia nutricional deve incluir medidas de adequação do peso corporal, perda de peso em caso de sobrepeso e obesidade, a implementação de recomendações de hábitos de vida saudáveis, incluindo atividade física e a mudança de hábitos alimentares inadequados, visando à redução do consumo de sódio, gordura saturada e alimentos calóricos e, principalmente, o aumento do consumo de líquidos.

As orientações devem ser de fácil compreensão e o profissional de saúde deve procurar esclarecer qual a inter-relação entre o consumo do alimento e a prevenção ou a gênese da formação do cálculo, para que a adesão do paciente, tanto no tratamento clínico e nutricional, alcance os objetivos propostos.

 

Orientações aos pacientes

O cálculo renal é muito comum de acontecer. Cerca de 8% das mulheres e 15% dos homens vão apresentar cálculo renal em algum momento da vida. Seu tratamento nem sempre é fácil. Além disso, as chances de uma pessoa que já teve cálculo renal vir a ter novamente é de cerca de 50% em cinco anos. Por isso, após o tratamento, é muito importante a prevenção da formação de novos cálculos. Para isso, as orientações nutricionais são muito importantes.

A formação de cálculos renais pode aumentar em função de alguns fatores nutricionais, tais como: ganho de peso e obesidade, excesso de sal na comida e o consumo reduzido de líquidos, dentre outros. Desta forma, alguns cuidados na alimentação devem ser tomados para evitar a sua formação:

# Procure ingerir no mínimo 2 a 3 litros de líquidos por dia:

  • Tome água, limonada com adoçante e chás de ervas (camomila, erva-doce, cidreira, hortelã) ao natural ou com adoçante. 
  • Consuma quente ou gelado e de preferência, adicionado de limão. 
  • Evite adoçar com açúcar, mel ou açúcar mascavo, pois aumenta a quantidade de calorias da bebida. 
  • Evite refrigerantes ou sucos em pó e artificiais, pois aumentam os riscos de cálculos. 
  • Prefira os sucos naturais e sem adição de açúcar.

Lembre-se: para avaliar se a quantidade de líquidos consumida está adequada, observe a urina, que sempre deve estar clara e límpida. Caso contrário, a quantidade de líquidos ingerida deverá ser aumentada.

# Cuidado com o sal!

  • Use o mínimo de sal possível no preparo dos alimentos e não adicione sal na comida. Prefira temperos naturais de ervas para dar sabor e aroma: orégano, salsinha, cebolinha, limão, coentro, salsão ou outros de sua preferência e evite:
  • Azeitonas, bacalhau, salgadinhos, queijos amarelos, temperos e molhos prontos (catchup, mostarda, shoyu, caldos concentrados, molho inglês, sopas de pacote, cubos de caldos de carne e outros), produtos com glutamato monossódico, embutidos (salsicha, mortadela, linguiça, presunto, salame, paio, carne seca);
  • Conservas (picles, azeitona, aspargo, palmito, milho, patês, algas, chucrutes, maionese pronta);
  • Enlatados (extrato de tomate, milho, ervilha, seleta de legumes e outros)
  • Carnes salgadas (charque, camarão seco, defumados);
  • Salgadinhos para aperitivos (batata frita, amendoim salgado, castanhas, chips);
  • Bolachas salgadas, recheadas, margarina ou manteiga com sal, requeijão normal ou light.
  • Procure ler os rótulos, pois muitos alimentos industrializados possuem sódio ou glutamato monossódico na composição e não devem ser consumidos.

# Frutas – Consuma pelo menos 3 a 4 ao dia:

  • Dê preferência à laranja, tangerina e melão. 
  • Consuma limonada e laranjada preparadas com a fruta natural, pois o ácido cítrico contido nestas frutas pode auxiliar a evitar a formação dos cálculos. 
  • Não use sucos artificiais ou refrigerantes. 
  • Frutas vermelhas ou sucos de cranberry, framboesa e morango possuem alta concentração de protetores contra infecções.

# Legumes cozidos ou crus e verduras de folha devem fazer parte das duas refeições principais (almoço e jantar), pois contém vitaminas, minerais e fibras, auxiliando no bom funcionamento intestinal, na prevenção de doenças e no aumento da resistência do organismo.

# Não deixe de consumir leite e seus derivados: 

  • No geral, não há necessidade de restringir o consumo de cálcio, um tabu que ainda é muito difundido. 
  • Consuma pelo menos três copos ao dia, desde que sejam desnatados: iogurte light, ao natural, coalhada, queijo branco magro com pouco sal, ricota ou leite desnatado em pó.
  • Somente reduza a quantidade de leite se for orientado pelo seu médico ou da nutricionista.

# Prefira os alimentos integrais aos refinados, pois contém fibras que auxiliam no funcionamento intestinal: 

  • Arroz e macarrão integral, biscoitos e pão integral light (sem adição de açúcar e gordura). 
  • No entanto, a quantidade destes alimentos deve ser controlada caso necessite perder peso, seguindo a orientação do nutricionista.
  • Prepare os alimentos sempre grelhados, assados ou cozidos. 
  • Evite frituras e empanados, pois são muito calóricos.

# Consuma uma porção de carne ou substitutos (peixe, frango sem pele ou ovo), no almoço e jantar, evitando excessos. 

  • Prefira as carnes magras. 
  • Evite churrascos, pois contém muita gordura e excesso de sal.
  • Não utilize suplementos de vitaminas ou minerais, sobretudo a vitamina C sem a prescrição do médico, pois podem propiciar a formação de cálculos.

# Evite café, bebidas achocolatadas e chocolate, chá preto, mate ou verde, espinafre, nozes, mariscos e frutos do mar. Estes alimentos contribuem na formação de cálculos, pois são ricos em oxalato. Portanto, use com moderação.

Algumas situações de cálculos de repetição são causadas por alterações específicas e são identificadas pelo urologista, merecendo aí um tratamento individualizado.

Além de tudo isso, procure realizar uma atividade física regular, pois auxilia na perda de peso e na manutenção da saúde. Portanto, procure caminhar ou fazer alguma atividade com regularidade.

Lembre-se: mantenha-se sempre bem hidratado durante as atividades, pois neste momento pode haver o início de algum cálculo renal devido à falta de água!

Seguindo estas orientações, as chances de formação de novos cálculos diminuem de 20 a 70%. Isso é muito importante, pois quem teve cálculo sabe a dor e sofrimento que isto pode causar!

Fonte: Sociedade Brasileira de Urologia – SBU